quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Edmilson Rodrigues e Luciana Genro recepcionam ex-petistas


O Partido dos Trabalhadores (PT) perdeu, nas últimas semanas, algumas de suas lideranças e simpatizantes em Igarapé-Miri. Entre os que deixaram a instituição estão o professor Isaac Fonseca Araújo e Manoel Raimundo Pinheiro, popularmente conhecido como Raimundo Velho.
Eles não expuseram os motivos do desligamento, pelo menos até agora, mas informações dão conta de que a decisão foi tomada porque os dois teriam descontentamentos com o modo de condução do processo político e partidário que a legenda tem adotado no município, inclusive com práticas que evidenciariam a lógica “dos fins justificam os meios”.      
Com a saída do PT, Isaac Fonseca e Raimundo Velho filiaram-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em encontro realizado no último dia 05 de dezembro, na Câmara Municipal de Vereadores, com a participação do Ex-Senador da República José Nery. Nesta última quinta-feira (11/12), em ato político realizado na cidade de Belém, os agora pesolistas foram recepcionados no partido pelo deputado Edmilson Rodrigues e pela ex-deputada Luciana Genro. Na ocasião, quase 200 militantes, de diferentes partes do estado, aderiram ao PSOL. 
Em Igarapé-Miri, a exemplo dos dois, outros militantes políticos também adotaram o número 50 como legenda partidária, alguns vindos do Partido Social Cristão (PSC), o que é o caso do Sr. João Serrão de Miranda, ex-diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Igarapé-Miri, e outros então simpatizantes do PT.
Críticos da política miriense já comentam que a saída desses membros pode estimular o desligamento de outros filiados, sobretudo do PT, que, já tendo governado a Prefeitura de Igarapé-Miri, enfrenta grande rejeição política no município. Segundo comentários, a situação do PMDB não é muito diferente. Aqui também existiriam filiados descontentes, já anunciando deixar o 15. Talvez não por discordância ideológica, mas por insatisfação com a forma que a direção tem se relacionado com “suas bases”.      
TRAJETÓRIA
Alguns analistas têm dito que Isaac Fonseca tornou-se uma das principais lideranças jovens do quadro petista em Igarapé-Miri, além de possuir boa penetração na região do Baixo Tocantins. Então militante do PT por 15 anos, Isaac é professor, Especialista em Gestão Pública e Mestrando em Sociologia. Foi Diretor de Economia Solidária e Secretário de Desenvolvimento do Município e já ajudou a criar e assessorar diversas organizações sociais em território miriense e na região tocantina. É fundador e editor do Jornal Tribuna Popular.
Raimundo Velho foi um dos fundadores do PT em Igarapé-Miri, há mais de 30 anos. Ajudou na conquista da Colônia de Pescadores do Município, tendo sido presidente da entidade por 04 anos. Já contribuiu com grandes debates e movimentos nacionais do seguimento da pesca e aquicultura. Exerceu os cargos de vereador pelo PT e Diretor de Pesca e Aquicultura da Secretaria Municipal de Desenvolvimento. 
Agora membros do PSOL, Isaac Fonseca, Raimundo Velho e João Serrão integram a Comissão Política que coordena o Partido no Município, juntamente com Adalmir Conceição e Goretti Maria Nonato. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Prof. Isaac Fonseca recebe Medalha de Direitos Humanos da ALEPA


O professor Isaac Fonseca Araújo foi agraciado pela Assembleia Legislativa do Pará, em nome do Instituto Caboclo da Amazônia (Incam), com a Medalha “Paulo Frota”, concedida pela ALEPA a pessoas e entidades com destacada atuação em defesa dos direitos humanos no Estado.

A Sessão Solene de Outorga do Mérito aconteceu na manhã do último dia 12 de dezembro (quinta-feira), no Plenário daquela Casa de Leis. Isaac Fonseca recebeu a Comenda do Chefe do Poder Legislativo, Deputado Mário Miranda (DEM), e do presidente da Comissão de Direitos Humanos, Deputado Carlos Bordalo (PT).

A indicação para que o Incam fosse homenageado partiu do Deputado Edmilson Rodrigues (PSOL), como reconhecimento pela contribuição que a ONG tem dado à promoção da cidadania no Município de Igarapé-Miri e no território do Baixo Tocantins.

No evento, Isaac Fonseca discursou em nome dos homenageados do ano, destacando, entre aspectos, o relevante serviço prestado pela Comissão de Direitos Humanos à sociedade miriense, nos últimos capítulos de sua história. Isaac argumentou que o desempenho da Comissão dignifica o parlamento paraense, no que diz respeito ao cumprimento do seu papel constitucional. E, referindo-se aos episódios mais recentes ocorridos na terra do açaí, concluiu afirmando que a intervenção dos Deputados foi fundamental para acelerar o processo de declínio da maior ditadura e coronelismo político que imperava (e ainda vigora) em solo miriense e desmonte do vergonhoso grupo de extermínio comandado pelo ex-prefeito e demais agentes públicos de Igarapé-Miri, desvendado pela operação “Falso Patuá”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Vereadora incomoda-se com críticas e reforça de que lado está

A escolha consciente e declarada da maioria dos vereadores de Igarapé-Miri em compor a base de apoio ao governo "Pé de Boto" tem suscitado críticas por atores dessa mesma sociedade. Recentemente, uma das parlamentares respondeu a um desses críticos, em conversa por uma rede social. Este blog reproduz o diálogo, por entender que é de interesse do povo miriense, como segue:   
Dalva Amorim:
Eu estou do lado do povo...amigo...vc esta do lado certo da Dilma...q pertence ao grupo do maior escandalo de corrupção...
Vc acredita mesmo q os 3 estao do lado do povo...diga-me o q eles ja fizeram pra ajudar esse povo...
Pergunta pros Acs se no dia q eles foram na câmara se ele se manifestou pra defender se ele ficou pra reuniao com os Acs..ele saiu foi embora
Sabe porque??? Pois é vc n sabe..pergunte pra ele..pra ver se ele tem coragem de dizer porque tava calado
Falo do Josias
Robson Fortes:
Cara vereadora, agradeço pelo contato e acredito que a democracia moderna se aprimora com o diálogo e o debate de idéias, mesmo que divergentes.
Quanto ao lado que a senhora está, sugiro que V. Senhoria diga isso ao povo miriense. Estamos em um estado de calamidade pública e nao vejo os vereadores se reunirem e fazerem uma visita ao hospital Santana, nas secretarias municipais e fotografarem, filmarem, reunirem provas materiais e processuais no caso da instauração de uma CPI e procurarem o ministério público ou até mesmo irem a capital do estado atrás da imprensa, como inclusive até meses passados a senhora esteve em jornal com um grupo de vereadores ratificando uma matéria sobre o caso Pé de Boto.
Faça isso. Mostre que a senhora e os demais vereadores estão do lado do povo. Faça um ofício e protocole na câmara convidando os vereadores a tomarem uma atitude concreta além de reuniões que nao surtem efeitos imediatos. Tire cópia do ofício e publique para a sociedade saber de que lado vossa senhoria está.
Quanto ao vereador Josias, não aqui me interessa saber suas divergências políticas com ele ou qualquer que seja outro vereador. O povo está sofrendo e creio que seus atritos devem serem menores do que a vontade comum de fazer algo, como inclusive isso que propus a senhora. Citei ele e outras duas vereadoras como opositores históricos do governo mais nao isento-os de suas responsabilidades como parlamentares.
Por último, quero relembra-la que vivemos em um estado democrático de direito e o voto é um direito de qualquer cidadão com total e irrestrita liberdade de escolha. Portanto o meu voto na candidata Dilma não define absolutamente nada a função da matéria em vigor. Por conseguinte, quero esclarecê-la que não existe no Brasil nenhum partido político em que casos de corrupção não tenham sido observados, inclusive o qual a senhora pertence.
No mais, uma ótima noite.
Obrigado.
Dalva Amorim:
Nobre colega vc so sabe o q os outros opositores falam...vc deveria saber o q significa democracia, pois a mesma lhe da o direito de escolher seu lado de ideias assim como me da direito de defender as minhas, n preciso ta pistando em redes socias o q faço ou deixo de fazer...pra sua informação n so eu mas os demais vereadores ja visitaram sim hospital e demais pistos de saude, estavamos sim na primeira manifestação de greve dos ACS.. e ja protocolamos sim documentos pedindo informações na secretaria de saude...e recentemente estivemos sim n apenas no jornal...cego vc n é, mas parece ser surdo ou vc n ouviu o q o procurador de justiça relatou..q os vereadores foram ate a secretaria de segurança do estado pedir medidas emergentes para Igarape-Miri...temos sim provas e documentos protocolados. Ainda estivemos ns Alep junto à comissão de Justiça tbm revendicando...esse é o nosso trabalho qto vereador...agora n somos ordenadores de despesas nobre colega...n temos o poder de efetuar pagamentos...nis fiscalizamis e fazemos as leis e projetos, no qual deveria se informar antes de qrer pousar de dono da razão...
Se vc é eleitor desse município escolha melhor seus representantes com informações de qm vive aq...n de postagem sensacionalista...de qm adora redes socias
Sua inteligência me assusta...votar na Dilma...
So pra sua informação n tenho divergência com nenhum dos vereadores. Vc deveria ter colocado a foto de tds na sua postagem...mas vc ja deu a resposta por eles...
Boa noite!!
Robson Fortes:
Divulgue para o povo os resultados vereadora, convide- nos para uma audiência pública. Ponha um carro son na rua e faça o povo saber que a senhora e a câmara de vereadores tem trabalhado ao lado dos interesses do povo. No mais, não sou dono da razão, longe de mim ousar ser, mais viva a democracia e a liberdade de opinião.
Passar bem.
Fonte: facebook.com/robsonfortes (04/11/2014)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quando os fins justificam os meios

Esta máxima é inspirada nas reflexões de Nicoló Di Bernardi Dei Machiavelli (Maquiavel), um dos pensadores mais discutidos de todos os tempos. E considerado um marco do pensamento moderno. Ao ensinar como um príncipe deve agir para se manter no poder, Maquiavel afirmou: “faça, pois, um príncipe por vencer e conservar o Estado, que os meios serão sempre tidos como honrosos e dignos de louvor, porque o vulgo é sempre atraído pelas aparências e pelo fato consumado” (extraído de O Príncipe).
Em Igarapé-Miri, parece que parte da sociedade política segue com rigor essa filosofia. Há uma fartura de acontecimentos, inclusive recentes, que justificam essa realidade. Quem não lembra das eleições de 2012, quando diversos candidatos a vereador almoçavam com Roberto Pina e jantavam com “Pé de Boto”? E como esquecer do “grupo dos 10” que, ainda pertencente à coligação dos vermelhos e azuis, tão logo as eleições encerraram, já havia negociado a presidência da Câmara com os amarelos?
Pois bem, depois de um ano e alguns meses das últimas eleições, vejam os senhores, algumas de Suas (que não são) Excelências já voltaram ao primeiro grupo (pois agora lhes parece conveniente eleger Helder Barbalho), mas sem abandonar o homem do posto.
Bom, até aqui não é tão difícil fazer essa conta (desde que se faça um bom esforço), já que se trata de um grupo de “aliados que vão e voltam”, a depender da correnteza das águas. Mais complicado é compreender como pessoas que até ontem travavam guerra eleitoral (atestada publicamente em palanque) hoje caminham juntas?
Então, pasmem, uma das últimas novidades da política partidária miriense é que o ex-vereador Vladmir Santa Maria Afonso (“Fuxico”/DEM), cassado por crime de caixa dois de campanha, agora integra a equipe de “lideranças” pró-Helder e Dilma, com as bênçãos do PMDB e PT de Igarapé-Miri.
Isso mesmo, o principal aliado de “Pé de Boto” nas eleições de 2012, que zombou destes últimos partidos citados, quando eleito presidente da Câmara de Vereadores, tendo defendido arduamente o governo Amaral na Casa, desta vez é aliado de Francisco Pantoja e Roberto Pina, sob a justificativa de que “está em jogo um projeto maior”.
Bom, o que levaria esses atores a um abraço de conveniência? Informações de bastidores dão conta de que Fuxico teria procurado o Deputado Federal Miriquinho Batista e o agora eleito Senador Paulo Rocha, ambos pelo PT, para pedir ajuda.
Vladimir sonha em voltar para o cargo de vereador e, como aguarda julgamento de recurso junto ao TSE, teria recebido a promessa de que esses parlamentares o apoiarão em tal empreitada. Em troca, Fuxico embarcaria na canoa que navega pelos rios do Miri com uma bandeira azul e uma vermelha na proa. É isso, os fins justificam os meios.
Fonte: Jornal Tribuna Popular, Edição nº. 08, outubro/2014        

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Prefeitura de Igarapé-Miri descumpre acordo com o Ministério Público

Encerrou, no último dia 09 de outubro, o prazo de 30 dias dado pelo Ministério Público ao governo de Ailson Amaral (DEM) para serem implementadas reformas estruturais no local onde funciona a Escola “Teotonio Cardoso dos Santos”, localizada na Colônia Camiri, zona rural do município.

SOBRE O CASO

No dia 26 de agosto deste ano, representantes de pais de alunos dessa unidade de ensino pediram a intervenção da Promotoria de Justiça de Igarapé-Miri para cobrar da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) a construção de um prédio escolar nessa localidade.

O pedido foi levado à Promotora de Justiça de Igarapé-Miri, em exercício, Ângela Maria Queiroz, por meio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), a quem a comunidade recorreu por primeiro.

No documento entregue à Promotoria, o presidente do CMDCA, José Maria Costeira, justificou que pais de alunos e governo não chegaram a nenhum acordo, até aquela data, e que em função disso os estudantes ali matriculados estariam com as atividades de sala de aula comprometidas, “razão pela qual procurou” o referido “Órgão Ministerial para orientação e providências”, explicou.

Aos 09 dias de setembro, a Promotora convocou para audiência o então Secretário de Educação, Felipe Pantoja, e um assessor jurídico da Prefeitura para dar tratamento ao caso. No fim da audiência, a Promotoria responsabilizou o governo Amaral, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a realizar imediatas adaptações no espaço onde atualmente funciona a escola (no prazo de 30 dias), que contemplem o provimento de ventilação do local, iluminação, meses e cadeias e a construção de banheiros com fossa séptica.

Além disso, o Ministério Público determinou que o governo municipal inicie, em até 60 dias, um novo prédio escolar na comunidade. Entretanto, moradores da localidade informaram ao Tribuna Popular que, até o fechamento desta edição, nenhuma obra tinha sido iniciada na unidade.
Fonte: Jornal Tribuna Popular, Edição nº. 08, outubro/2014.

sábado, 6 de setembro de 2014

Independência sem justiça social: o paradoxo histórico que persiste - uma nota para reflexão

Na última sexta-feira (05/09/2014), dezenas de crianças de nossa terra do açaí foram levadas por suas escolas às ruas, para desfilarem em comemoração à chamada Semana da Pátria. Entre esses pequeninos também caminhou minha filha Maria Clara, de 06 anos.

Indiscutivelmente estão de parabéns todos os profissionais da educação pública de Igarapé-Miri pelos valorosos esforços disponibilizados em prol desse projeto de educação cívica (a Semana), traduzido em estudos, reflexões e debates nas escolas e nas apresentações públicas como forma de celebração.
Por coincidência, no mesmo instante em que Maria Clara experimentava aquela festa, embora ainda não muito consciente dos significados e dos contrassensos imbricados nesse ato, eu acompanhava, na UNICAMP (portanto, muito distante daqui), uma importante discussão sobre os esforços que estão sendo feitos pela Comissão Nacional da Verdade e suas congêneres para revelar ao Brasil as verdades sobre o vergonhoso período da repressão imposta pelo estado brasileiro e recomendar medidas pelas quais se possa fazer justiça e reparar parte dos muitos danos a que foram submetidas centenas de famílias.

Pasmem os senhores, aquele debate mostrou que em diferentes partes do pais os casos de repressão e injustiças, por isso crime contra a pessoa, continuam sendo praticados por agentes estatais, embora já tenha sido declarado oficialmente o fim da ditadura. Tais evidências me fizeram lembrar da realidade paraense, em especial de alguns municípios dos quais tenho informações incontestes.

Em um deles, pertence à Região Sul do Pará, o prefeito comanda um grupo de capangas que cumprem ordens para reprimir “adversários políticos” de Sua Excelência, sempre que este se sente desafiado. Há relatos de que o gestor e seus comparsas já expulsaram grupos de manifestantes na cidade com uso de arma de fogo. Numa cidade próxima a esta citada, o secretário de educação jurou (e tem feito todos os esforços para) acabar com uma turma de graduação recentemente implantada no município dele apenas porque as inscrições dos candidatos “não passaram pelas mãos” do executivo.

É curioso que os métodos são bastantes parecidos, conforme pude observar nas exposições: ameaças, agressões, imposição da cultura do silêncio, extermínios... Uma narrativa que a mim pareceu muito familiar.

Pois bem, antes que me perguntem: e qual a relação desse fenômeno com a semana da prática? Eu adianto: tudo! Penso que esse momento de reflexão sobre a cidadania de um povo deve ser tomado (também) como uma oportunidade para nos questionarmos acerca do valor da democracia, da justiça, da inalienabilidade dos direitos humanos (isto é, todos os direitos). Daí a importância de estimular em nossas crianças – além do gosto pela comemoração, pela celebração popular – a curiosidade sociológica, de tal forma que possamos, a partir dessas novas gerações, incidir de modo mais qualificado na construção do lugar onde vivemos.

Digo isso para afirmar que um estágio de independência plena só pode ser alcançado por meio de duas grandes revoluções: uma na educação, notadamente no que tange à formação de sujeitos questionadores e construtores do bem viver. E, outra, que ofereça condições para o desenvolvimento econômico, não a qualquer preço, mas aquele que gera qualidade de vida com justiça social, civilização cuja dinâmica não permite nenhum tipo de violência.

Eu conversarei com a Maria Clara sobre essas coisas, tão logo ela as compreenda. Que tal debate-las com outros estudantes que já possuem condições intelectuais para tanto?      

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Quando o rebanho se une os leões dormem com fome

Li este enunciado em uma das muitas faixas que deram brilho e conteúdo à Audiência Pública ocorrida no último dia 10 de julho, nesta cidade de Igarapé-Miri, sob o comando da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará (CDHDC/ALEPA).
Confesso não me recordar de ter visto nos últimos meses um cartaz ou faixa com tamanha capacidade de síntese e profundo sentido. Não sei quem são seus autores, mas devo admitir que estão de parabéns por tão bonita mensagem. Aí está uma afirmação, assim compreendo, que traduz um sentimento de esperança revolucionária.
De esperança ela ensina muito porque reflete o sonho divino – projetado na sua mais perfeita criação – de que os homens e mulheres alcancem ainda nesta história o ápice de uma vida em comum(unidade). Mas ela (a afirmação) também é revolucionária quando, admitindo que em toda sociedade capitalista há explorados e exploradores, indica uma realidade possível na qual uma dada comunidade de pessoas, mobilizadas por interesses comuns, é capaz de enfrentar as mais aterrorizantes situações de ameaça e morte, vencê-las e delas sair fortalecida.
Possivelmente, muitos dos que participaram daquele encontro de lá saíram com dúvidas já disseminadas nos grupos sociais acostumados com as chamadas audiências públicas: sim, bons discursos, mas e agora? Quais os próximos passos? Esses encaminhamentos resultarão em benefícios concretos para a sociedade, ou esta discussão acabará como tantas outras “reuniões para tirar fotos e publicar nas redes sociais”? Também nesta dimensão vejo que aquele cartaz sinalizava para uma perspectiva promissora em termos de ganhos sociais.
Um envolvimento mais consciente, uma participação mais ativa e corajosa. Eis o caminho promissor indicado naquela frase. Construí essa certeza ao longo da audiência, a cada exame de fala que fiz; nas expressões de revolta e indignação, mas também de esperança e crença na vida, impressas nas intervenções do plenário; nas denúncias carregadas de verdade e desejosas de fazer valer o direito à vida como bem inalienável.
Dito e feito. Depois da Ouvidora do Sistema de Segurança Pública do Pará, Eliana Fonseca, ter lamentado a ineficiência do Estado, mas firmado o compromisso de chamar os órgãos responsáveis para uma ação conjunta em favor de Igarapé-Miri, dois fatos pós-audiência mostraram que a participação popular pode mudar os rumos de uma sociedade.
O primeiro – a repentina substituição do Delegado de Polícia responsável pela Unidade local, poucos dias após o evento – fatalmente ocorreu em função das graves denúncias oferecidas pela população. Uma mudança que sinaliza certo receio do governo Jatene face às manifestações.
Em um segundo momento, a sinalização por parte do Ministério da Justiça de que o Governo Federal está sensível ao caso de Igarapé-Miri e se dispõe a tomar providências legais para contribuir com a superação da violência e do medo hoje instalados na terra do açaí, também sugere que o clamor do povo é a ferramenta primeira e mais consistente para o enfrentamento de todo e qualquer caos social.
Estes sinais, é claro, nada garantem que os encaminhamentos produzidos pela audiência do dia 10 serão todos materializados, resultando em ganhos suficientes para resolver os graves problemas que atualmente tiram o sono do povo miriense. Mas são sinais – positivos e animadores – originados a partir da intervenção da comunidade local.
Como se sabe, nosso Igarapé-Miri vive estes dias como um barco em alto mar, cujas condições apontam para um naufrágio iminente, já que os muitos furos no casco fazem-no tomar água e há poucos tripulantes para secá-lo. Por isso, toda luz que indique terra firme não apenas fornece força e ânimo, mas também esperança de salvação.

Esse naufrágio não é natural. Ele tem sido produzido, sobretudo por uma indústria do crime que aqui implantou alguns de seus agentes dedicados a empreender a comercialização da morte, especialmente patrocinada pela farta distribuição de drogas e armas. Portanto, existem atores ganhando muito dinheiro com a desgraça da nossa gente e muitos serventes deles cumprindo a ordem de fabricar o caos. Mas, os sinais de vida estão aí. De forma clara eles mostram que quando o povo se levanta unido e participa os “leões dormem com fome”, pois o rebanho fica protegido.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Tire o Pé, meu filho, por favor!

Isaac Fonseca Araújo
Educador, escritor e jornalista

Sempre que reunia toda a família, Aparecida ficava muito feliz, sentia-se realizada ao ver os seus em comunhão. Lógico, qual mãe não ficaria? Mas, aquele almoço de domingo era mais do que especial, já que além da comemoração pela formatura de Ana Cristina – a caçula, agora Odontóloga –, também possibilitava uma confraternização pelo cinquentenário de Josenildo.
José, como era carinhosamente chamado por todos, não se importava muito com a data, não tinha por costume ficar sentado esperando que o servissem. Sempre prestativo e acolhedor, esmerava-se em ajudar Aparecida para servir a todos. Não cansava de dizer que seu primeiro presente era ver a satisfação estampada nos rostos das três filhas e, de modo particular, contemplar a alegria contagiante dos cinco netos.
Entre os presentes naquela festa familiar havia um consenso acerca da energia acima da média que João Carlos demonstrava. Talvez fosse esse o motivo para o chamarem de Joãozinho, parece bem clássico. O que ninguém imaginava é que naquele dia, justo nesse dia, o quase adolescente se superaria em peraltices.
Uma possibilidade que desde cedo incomodava o casal Pedro e Lúcia, a primogênita de Josenildo. A mãe, sempre mais atenciosa, já tinha repetido umas dez vezes a frase “tire o Pé, meu filho, por favor”! Todas elas fracassadas, é claro: Joãozinho era uma vibração só, nem o risco de cair na piscina – cuja ausência de nado constituía uma ameaça visível – nem o fogo na churrasqueira inibiam o garoto. Aparecida só olhava, achava era bonito.
___ Tudo bem, hoje é dia de festa, Lúcia, deixa o menino brincar, acalmava.
Mas Pedro igualmente monitorava e, sempre que Joãozinho subia nas cadeiras, botava os pés na água ou fazia gestos de que subiria na mesa, insistia:
___ João Carlos, tire o Pé, meu filho, por favor!
Peraltices a parte, todos se confraternizavam. Aquele era um dia muito esperado, uma realização imensurável para Aparecida e José. As estripulias das crianças? Ora, nada mais do que o vigor da criação divina. Assim todos as reconheciam.
___ Meus amores, a mesa está servida, avisou Aparecida. Como de costume vamos primeiro agradecer a Deus e, depois, José e eu queremos todos sentados, pra que essa refeição seja um momento único em nossa família, orientou.
___ Antes da oração quero dizer duas palavrinhas de agradecimento, solicitou Ana Cristina. Bom, depois já viu, falou Josenildo, a filha mais velha, um dos convidados e, finalmente:
___ Agora vamos agradecer a Deus por essa dada histórica – disse Aparecida. Em seguida cantaremos os parabéns, concluiu.
Os netos até que se sentaram, com exceção de um, que circulava a mesa como quem deseja fazer uso da palavra.
___ Bom apetite meus queridos, exclamou José.
Até aqui tudo na medida, e eis que surge o inesperado. Por alguns segundos, enquanto Josenildo deu as costas para buscar o último aperitivo, Joãozinho subiu na cadeira do avô e anunciou:
___ Também quero cantar uma música, em nome dos netos. A essa altura os pés já tocavam a toalha sobre a mesa, talvez desejasse mostrar uma coreografia, mas não se dava por satisfeito sobre a cadeira, seu alvo era mesmo a mesa.
Aparecida e Lúcia, de forma sincronizada, adiantaram-se:
___ Tire o Pé da mesa, meu filho, por favor! Você poderá cair e se machucar e, ainda, derrubar a comida, suplicaram. Mas Joãozinho fez-se indiferente, queria a todo custo roubar a cena.
___ Não seja teimoso, João Carlos, tire o Pé, por favor! Endossou Pedro. Você está desrespeitando seus pais, tire o Pé, meu filho, insistiu. Tarde demais, Joãozinho já estava com o corpo quase todo em cima da mesa.
Aparecida e Lúcia nem tiveram tempo de anunciar o final da apresentação. Com o corpo desequilibrado e sem espaço – tendo em vista a fartura de comida – bastou alguns segundos para que Joãozinho viesse abaixo. O garoto não se machucou, mas sobre a mesa não sobrou um prato com comida, porque o pé direito de Joãozinho prendeu na toalha e a arrastou até o chão.

___ Ai meu Deus, gritou José. E agora, o que vamos almoçar? Tanto que pedimos a você: tire o Pé, por favor, mas você teimou em não atender. Bonito então, agora ficará com fome como todos nós.  

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Comissão de Direitos Humanos da ALEPA é recebida pelo Ministério da Justiça - em pauta: a violência generalizada e as violações de direitos em Igarapé-Miri

A Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da ALEPA (CDHDC), nesta agenda representada pelo deputado Edmilson Rodrigues (PSOL), foi recebida em audiência, na última quarta-feira (23), pelo Secretário Executivo do Ministério da Justiça, Marivaldo de Castro Pereira, em Brasília, a fim de debater a insustentável situação de violência, ameaças e violação de direitos que tomou conta de Igarapé-Miri, sobretudo de 2013 até estes dias.

Também participou do encontro o deputado Federal Miriquinho Batista (PT-Pará), de quem partiu a articulação junto ao Ministro da Justiça. A agenda compõe os encaminhamentos pactuados na Audiência Pública do último dia 10/07, ocorrida na cidade de Igarapé-Miri, sob a condução da CDHDC/ALEPA, na qual Miriquinho assumiu o compromisso com tal articulação.

Segundo Edmilson "os alarmantes índices de violência" que assolam Igarapé-Miri, "considerada a 30° mais violenta do Pará", foram denunciados no encontro. Além das "arbitrariedades que estão sendo cometidas pela administração municipal na tentativa de coibir a violência".

Ainda de acordo com Edmilson, o Secretário Executivo do Ministério da Justiça "recebeu as denúncias e assumiu o compromisso de garantir a rigorosa apuração e de coibir os possíveis abusos que tenham sido cometidos".

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Saia justa - coisas da política partidária

(Leia mais em Tribuna Popular, Edição 5, julho de 2014).


Roberto Pina e Francisco Pantoja não estão mais sozinhos no desconforto político provocado pela conjuntura eleitoral deste ano. Membros do PT e PMDB, respectivamente, Pina e Francisco pedem voto para Helder Barbalho nas eleições que se avizinham. E Helder tem como candidato a vice Lira Maia, do DEM, mesmo partido do prefeito “Pé de Boto”. Imagine um palanque com essas figuras todas? Pois é, mas a fila aumentou.

Quem agora também coçará a cabeça será o vereador Josias Belo (PSC). Ocorre que o partido de Josias ocupa a posição de vice na chapa de Jatene (PSDB), a quem Belo tem feito muitas críticas no parlamento local. Além disso, o desprendido vereador faz firme oposição ao prefeito de Igarapé-Miri, que certamente é soldado do governador tucano. É amigos, coisas da política partidária.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

TODO CAOS TEM SUA LÓGICA

(Leia outras reflexões e matérias jornalísticas em Tribuna Popular, Edição 5, julho/2014).

Há um filme de origem norte americana, protagonizado pelo conhecido ator Jason Statham (Detetive Quentin Conners), cujo nome é caos.
Na trama policial, Detetive Conners sente-se perdido em meio a um grande roubo de banco, ao qual se associam sucessivos eventos de destruição social (explosões relâmpagos, interrupções no fornecimento de energia etc.) que, em conjunto, projetam uma realidade de fim da cidade. Tudo leva a crer que já é chegada a hora do fim dos tempos.
Ao protagonista foi dada a incumbência de atravessar todo o enredo correndo atrás dos fatos, como um cego perdido em tiroteio. Até que no final da obra tudo se encaixa, quando a lógica dos fenômenos é percebida: Conners, enfim, descobre que há um agente (Wesley Snipes, Lorenz), o chamado antagonista, arquitetando e dirigindo todos os eventos, de modo a criar um imaginário de juízo final. 
De fato, essa era a sensação vivida por aquela comunidade local: de que se tinha chegado à beira do abismo, não fosse o elemento surpresa que ali garantia o brilho cinematográfico, ou seja, a ação do malfeitor e seus correligionários no comando das sistemáticas desgraças. No final, bastou cortar a raiz dos problemas e a cidade voltou à normalidade.
Como já é sabido, a descoberta de Conners (a partir da qual a cidade foi salva) sugere propositalmente que os Estados Unidos têm capacidade de resolver todos os problemas do mundo, que ninguém pode derrotá-los. Mas isso não importa. A lição importante é que, em sociedade, tudo está interligado. Por trás de fatos aparentemente isolados há uma (ainda que implícita e fina) conexão, pois a sociedade constitui-se um sistema, formado por organismos integrados.
Tenho lembrado deste filme, sempre que penso a respeito da realidade hoje vivida pelo povo miriense. Nossa terra querida, internacionalmente conhecida pelo seu agroextratvismo, por sua cultura e religiosidade, agora chamada Capital do Açaí, nos últimos anos geme como em dores de parto, sobretudo refém da onda de violência que aqui se instalou, cujas proporções já quase se equivalem a uma guerra civil.
Especialmente de 2013 até estes dias não tivemos mais nenhuma garantia de que estaremos vivos no dia seguinte. Nossa Igarapé-Miri está dominada pelo tráfico de drogas e de armas, os quais alimentam um fenômeno antigo e cada vez mais acentuado: o confronto entre gangues pela disputa de território.
Os grupos rivais, bem municiados de armas e drogas, enfrentam-se constantemente pela cidade, a qualquer hora do dia. Tiroteios surgem “do nada” e, seguidas vezes, deixam feridos e até mortos cidadãos inocentes atingidos pelas chamadas “balas perdidas”.
Já não podemos mais nem ir à praça da cidade (um dos pouquíssimos lugares públicos de confraternização), porque quase toda semana surgem confrontos relâmpagos com resultados tristes para famílias de bem.
A situação de vulnerabilidade social se agrava cada dia mais em função da ausência de governo instalada. Vivemos em meio a um caos social, numa situação de calamidade pública não declarada. A sensação que fica é que não temos para quem nos queixar. Nossas vozes até agora não foram ouvidas. E o que tem nos restado são o medo e o sentimento de impotência.
Mas acredite, não existe nada de ruim que não possa piorar. Não bastasse esses fenômenos todos, agora já nem podemos nos expressar. Há um esforço sistemático para silenciar todos aqueles que se mostram contrários à ordem do caos. E com um agravante: trata-se de uma repressão institucionalizada, liderada por agentes públicos (ou a eles filiados), o que constitui uma espécie de ditadura branca.
O rompimento com esse cenário parece cada vez mais distante, já que uma cultura degradante enraíza-se a cada dia: parte da sociedade civil local não protesta, faz-se indiferente, não acredita mais na organização, calou-se. Os responsáveis por fiscalizar e/ou fazer cumprir as leis, não raro parecem inertes e, a população, outra vez, diz “isso é assim mesmo, não tem jeito”.


O fato é que por trás de todo caos existe uma lógica (como aquela percebida pelo Detetive Conners). É preciso entender quais os fatores que o determinam? Que agentes atuam para produzir o caos? A quem este interessa? Enfim, qual a lógica que orienta o caos social no qual está mergulhado o município de Igarapé-Miri?    

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Pé de Boto ausenta-se de audiência pública e incentiva a violência em rádio da cidade

"Como uma flor entre uma multidão vermelha"

O Prefeito de Igarapé-Miri, Ailson Amaral ("Pé de Boto"/DEM), concedeu entrevista, hoje pela manhã, a uma rádio da cidade. Acompanharam o gestor o assessor jurídico da prefeitura, Amadeu Filho, e o Secretário de Administração do município, Gil Pinheiro.

"Pé de Boto" não compareceu à Audiência Pública ocorrida ontem na Barraca de Sant'Ana, convocada e presidida pela Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará (CDHDC/ALEPA), na qual foi tratada a questão da escalada da violência e violação de direitos em Igarapé-Miri. O gestor preferiu ir a uma rádio e falar sozinho, sem que pudesse ser questionado pela população.

A ausência do prefeito na Barraca e sua manifestação na rádio mostram o elevado grau de irresponsabilidade e desrespeito do administrador municipal para com o povo miriense. Isso porque, certamente, as quase 500 lideranças que participaram da audiência esperavam que o governo local se comprometesse com a sociedade publicamente, quanto à construção da paz, e não uma atitude arbitrária de um servidor público que fala sem permitir o debate social.

O discurso do prefeito funcionou como um incentivo à violência, já insustentável na terra do açaí, uma vez que o gestor atacou, difamou, condenou vários cidadãos que ajudaram a organizar o evento do dia 10. "Pé de Boto" chamou para alguns deles de vagabundos e, para outros, de vagabundos e ladrões. Disse, ainda, que há muitos jovens em Igarapé-Miri que não merecem viver, pois, são - segundo ele - imprestáveis e devem ser banidos da face da terra.

O prefeito e o assessor dele tentaram desqualificar a audiência. Qualificaram o debate como um palanque político-eleitoral, arquitetado por uns "quatro gatos pingados", embora tenham participado da audiência aproximadamente 500 pessoas.

Para Amadeu Filho, que se sentiu "como uma flor amarela entre uma multidão vermelha", o evento serviu como um palco para petistas em período eleitoral. Filho desmereceu, com isso, a presença das polícias, do Corregedor da Polícia Civil e da Ouvidora do Sistema de Segurança do Pará, eleita pelos votos de mais de 35 entidades representativas do Estado.

Amadeu também foi desrespeitoso com os Deputados Chico da Pesca (PROS) e Edmilson Rodrigues (PSOL - este último um dos políticos mais respeitados do Brasil e um dos maiores intelectuais da Amazônia), que não são do PT e, de certo, não aceitariam fazer "papel de moleques" em um evento público com tanta gente.

Talvez o descontentamento do assessor tenha sido provocado pelos dois vaias que Filho recebeu na Barraca, de forma sincronizada pelo conjunto dos participantes. O que mostra o grande descontentamento do povo miriense com o governo Amaral.