Li este
enunciado em uma das muitas faixas que deram brilho e conteúdo à Audiência
Pública ocorrida no último dia 10 de julho, nesta cidade de Igarapé-Miri, sob o
comando da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia
Legislativa do Pará (CDHDC/ALEPA).
Confesso não
me recordar de ter visto nos últimos meses um cartaz ou faixa com tamanha
capacidade de síntese e profundo sentido. Não sei quem são seus autores, mas devo
admitir que estão de parabéns por tão bonita mensagem. Aí está uma afirmação,
assim compreendo, que traduz um sentimento de esperança revolucionária.
De esperança
ela ensina muito porque reflete o sonho divino – projetado na sua mais perfeita
criação – de que os homens e mulheres alcancem ainda nesta história o ápice de
uma vida em comum(unidade). Mas ela (a afirmação) também é revolucionária
quando, admitindo que em toda sociedade capitalista há explorados e
exploradores, indica uma realidade possível na qual uma dada comunidade de
pessoas, mobilizadas por interesses comuns, é capaz de enfrentar as mais
aterrorizantes situações de ameaça e morte, vencê-las e delas sair fortalecida.
Possivelmente,
muitos dos que participaram daquele encontro de lá saíram com dúvidas já disseminadas
nos grupos sociais acostumados com as chamadas audiências públicas: sim, bons
discursos, mas e agora? Quais os próximos passos? Esses encaminhamentos
resultarão em benefícios concretos para a sociedade, ou esta discussão acabará
como tantas outras “reuniões para tirar fotos e publicar nas redes sociais”?
Também nesta dimensão vejo que aquele cartaz sinalizava para uma perspectiva
promissora em termos de ganhos sociais.
Um
envolvimento mais consciente, uma participação mais ativa e corajosa. Eis o caminho
promissor indicado naquela frase. Construí essa certeza ao longo da audiência,
a cada exame de fala que fiz; nas expressões de revolta e indignação, mas
também de esperança e crença na vida, impressas nas intervenções do plenário;
nas denúncias carregadas de verdade e desejosas de fazer valer o direito à vida
como bem inalienável.
Dito e feito. Depois
da Ouvidora do Sistema de Segurança Pública do Pará, Eliana Fonseca, ter
lamentado a ineficiência do Estado, mas firmado o compromisso de chamar os órgãos
responsáveis para uma ação conjunta em favor de Igarapé-Miri, dois fatos
pós-audiência mostraram que a participação popular pode mudar os rumos de uma
sociedade.
O primeiro – a
repentina substituição do Delegado de Polícia responsável pela Unidade local,
poucos dias após o evento – fatalmente ocorreu em função das graves denúncias oferecidas
pela população. Uma mudança que sinaliza certo receio do governo Jatene face às
manifestações.
Em um segundo
momento, a sinalização por parte do Ministério da Justiça de que o Governo
Federal está sensível ao caso de Igarapé-Miri e se dispõe a tomar providências
legais para contribuir com a superação da violência e do medo hoje instalados
na terra do açaí, também sugere que o clamor do povo é a ferramenta primeira e mais
consistente para o enfrentamento de todo e qualquer caos social.
Estes sinais,
é claro, nada garantem que os encaminhamentos produzidos pela audiência do dia
10 serão todos materializados, resultando em ganhos suficientes para resolver
os graves problemas que atualmente tiram o sono do povo miriense. Mas são
sinais – positivos e animadores – originados a partir da intervenção da
comunidade local.
Como se sabe,
nosso Igarapé-Miri vive estes dias como um barco em alto mar, cujas condições
apontam para um naufrágio iminente, já que os muitos furos no casco fazem-no
tomar água e há poucos tripulantes para secá-lo. Por isso, toda luz que indique
terra firme não apenas fornece força e ânimo, mas também esperança de salvação.
Esse naufrágio
não é natural. Ele tem sido produzido, sobretudo por uma indústria do crime que
aqui implantou alguns de seus agentes dedicados a empreender a comercialização
da morte, especialmente patrocinada pela farta distribuição de drogas e armas.
Portanto, existem atores ganhando muito dinheiro com a desgraça da nossa gente
e muitos serventes deles cumprindo a ordem de fabricar o caos. Mas, os sinais
de vida estão aí. De forma clara eles mostram que quando o povo se levanta
unido e participa os “leões dormem com fome”, pois o rebanho fica protegido.
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