Indiscutivelmente
estão de parabéns todos os profissionais da educação pública de Igarapé-Miri
pelos valorosos esforços disponibilizados em prol desse projeto de educação
cívica (a Semana), traduzido em estudos, reflexões e debates nas escolas e nas
apresentações públicas como forma de celebração.
Por
coincidência, no mesmo instante em que Maria Clara experimentava aquela festa,
embora ainda não muito consciente dos significados e dos contrassensos
imbricados nesse ato, eu acompanhava, na UNICAMP (portanto, muito distante
daqui), uma importante discussão sobre os esforços que estão sendo feitos pela
Comissão Nacional da Verdade e suas congêneres para revelar ao Brasil as
verdades sobre o vergonhoso período da repressão imposta pelo estado brasileiro
e recomendar medidas pelas quais se possa fazer justiça e reparar parte dos
muitos danos a que foram submetidas centenas de famílias.
Pasmem
os senhores, aquele debate mostrou que em diferentes partes do pais os casos de
repressão e injustiças, por isso crime contra a pessoa, continuam sendo
praticados por agentes estatais, embora já tenha sido declarado oficialmente o
fim da ditadura. Tais evidências me fizeram lembrar da realidade paraense, em
especial de alguns municípios dos quais tenho informações incontestes.
Em
um deles, pertence à Região Sul do Pará, o prefeito comanda um grupo de
capangas que cumprem ordens para reprimir “adversários políticos” de Sua
Excelência, sempre que este se sente desafiado. Há relatos de que o gestor e seus
comparsas já expulsaram grupos de manifestantes na cidade com uso de arma de
fogo. Numa cidade próxima a esta citada, o secretário de educação jurou (e tem
feito todos os esforços para) acabar com uma turma de graduação recentemente
implantada no município dele apenas porque as inscrições dos candidatos “não
passaram pelas mãos” do executivo.
É
curioso que os métodos são bastantes parecidos, conforme pude observar nas
exposições: ameaças, agressões, imposição da cultura do silêncio,
extermínios... Uma narrativa que a mim pareceu muito familiar.
Pois
bem, antes que me perguntem: e qual a relação desse fenômeno com a semana da
prática? Eu adianto: tudo! Penso que esse momento de reflexão sobre a cidadania
de um povo deve ser tomado (também) como uma oportunidade para nos
questionarmos acerca do valor da democracia, da justiça, da inalienabilidade
dos direitos humanos (isto é, todos os direitos). Daí a importância de
estimular em nossas crianças – além do gosto pela comemoração, pela celebração
popular – a curiosidade sociológica, de tal forma que possamos, a partir dessas
novas gerações, incidir de modo mais qualificado na construção do lugar onde
vivemos.
Digo
isso para afirmar que um estágio de independência plena só pode ser alcançado
por meio de duas grandes revoluções: uma na educação, notadamente no que tange
à formação de sujeitos questionadores e construtores do bem viver. E, outra,
que ofereça condições para o desenvolvimento econômico, não a qualquer preço,
mas aquele que gera qualidade de vida com justiça social, civilização cuja
dinâmica não permite nenhum tipo de violência.
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