quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sobre a sociedade do ridículo

Enquanto fato histórico, a ridicularização da vida apresenta-se como fenômeno que se expressa na cultura da banalidade, do vazio, do supérfluo, da ausência de conteúdo e criticidade. Trata-se de um movimento que compromete o exercício do pensamento, enquanto essência e necessidade características da constituição do homem como ser. 

Com base em Lima et. al (2009, p. 02) pode-se sugerir que essa problemática tem vinculo com o “capitalismo informacional”, cuja produção está centrada nos “bens imateriais”. Assim, “a informação, a linguagem, o modo de vida, o gosto são produzidos e reproduzidos pelas forças do capital”, e isso faz com que a “subjetividade, as ‘identidades’ das pessoas, seus valores, as imagens que fazem de si e do mundo”, sejam “fabricadas e moldadas” (idem, p. 05).     

A crise de sentido instaurada tem se proliferado pela sociedade de forma veloz e acentuada, impactando de modo ainda mais notável em meio aos adolescentes e jovens, sobretudo em função de conjunturas socioeconômicas desfavoráveis e da condição/fase humana em que se encontram esses públicos.

Nessa sociedade do ridículo, (a) veículos de comunicação elegem camaro amarelo como música revelação do ano no Brasil; (b) redes de televisão sob orientação mercadológica expõem ao vexame famílias já em situação de miséria, humilhando-as por seguidas horas em rede nacional, quando da aplicação de “desafios” nada educativos, sob a hipócrita e demagoga justificativa de que desejam prover a essas famílias a realização de sonhos, quando na verdade escondem seus pacotes de sensacionalismo para ganhar audiência e acumular capital a custa da desgraça alheia; e (c) o suspiro do macho ao ver a fêmea passar por uma esquina qualquer – hum, que delícia, assim você me mata, ai se eu te pego – vira “melodia” e se torna febre mundial, apenas citando alguns exemplos.

Estou certo de que esse quadro de deteriorização humana se alimenta de um efeito da ação do capital sobre a humanidade, ao qual chamo de esvaziamento de substância intelectual. Ora, já nos é compreensível que, ao funcionar enquanto sistema, a base de organismos integrados, o capitalismo produz a alienação das pessoas, porque a ele interessa a manutenção do status quo. Devo acrescentar que essa alienação tende a se perpetuar, uma vez que, segundo Gaiger (2003), “o capitalismo instaura o processo que vem a repor sua própria realidade, a reproduzi-la historicamente” (p. 05).    

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