segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Identidade e sujeito: por uma cultura do pertencimento

Não seria exagerado afirmar que um dos alicerces de uma identidade sólida e historicamente construída é a consciência de sujeito de direitos – aquele que se reconhece protagonista de sua vida e agente de transformação da sociedade. Não há como pensar em cidadania, democracia ativa, emancipação sociocultural e econômica, abdicando-se do usufruto dessas prerrogativas. E, certamente, um dos primeiros elementos para formação desse homem-completo é o sentimento de pertença: aceitar-se pertencente a e enraizado em um dado lugar, parte de sua história social (portanto, de sua formação) é indicativo de uma evolução civilizacional.

De fato, dois grandes ganhos são advindos dessa mudança de mentalidade: (i) o desenvolvimento passa a ser concebido como uma construção de dentro para fora e de baixo para cima, processo em que cada ator se torna co-responsável, sabendo que os ganhos trazidos de outras vivências deverão ser multiplicados com seus pares, para que então estes possam garanti-los às futuras gerações e; (ii) a convicção de que o seu lugar tem o valor devido, não mais nem menos que qualquer outro, bonito e importante como é e com o que tem – único em meio ao infinito.

O novo sujeito, ao se reconhecer/aceitar pertencente a uma concretude territorial, contribui para construção de um corpus de cultura local, que o emancipa e dá autonomia a “sua” comunidade. Há dignidade e liberdade nessa relação de entrega homem-meio, com mediação duma cultura sócio-historicamente vivenciada. 

É feliz, pois, Leonardo Boff em seus utópicos ideais de filosofia e vida: o ser humano deve explorar cada dia mais a capacidade de se tornar “águia” – que voa alto, tem força e garra para descobrir e explorar novos horizontes – sem deixar de ser “galinha”, símbolo de quem reconhece sua origem e cuida de seu lugar. Há, enfim, uma fina cumplicidade no ser águia/galinha: a dialética da cultura do pertencimento.   

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