segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Paulo Freire e Demerval Saviani: duas concepções sobre educação - diálogo com estudantes


Para Saviani, a educação (enquanto natureza) parte de um processo de trabalho, ou melhor, constitui-se um. Nesse sentido, o homem é um ser que, constantemente, produz para depois (re)produzir, sendo este produto dado pelo trabalho. É a partir desse movimento histórico que os humanos fazem cultura, e a fazem coletivamente. Daí porque se diz que ao homem cabe adaptar a natureza, transformá-la, é para se dizer que suas necessidades são as suas sabedorias.

Desse modo, Demerval pensa a educação como (também) uma atividade produtiva, dentro das culturas que os homens coletivizam. Para ele, tudo passa pela produção da existência humana, pressuposto que coloca o homem num processo permanente de trabalho para garantia da sobrevivência. Dentro deste ato de produzir, Saviani então coloca as expressões trabalho material e trabalho não-material, para se referir à questão dos bens.

Para justificar a primeira, o autor lembra dos bens materiais, necessários à subsistência material de cada indivíduo; em relação à segunda, fala dos saberes e/ou produtos subjetivos, ou seja, as ideias, artes, os conceitos, valores, símbolos, hábitos, habilidades etc. E aqui Demerval inclui a educação.

Assim, Saviani pressupõe o ato de educar como um ato produtivo e consumível, ao mesmo tempo. No caso do ensino em sala de aula, por exemplo, afirma ser o professor um produtor (neste caso do conhecimento; atividade não-material), aquele que está produzindo para o consumo dos educandos.

Diferentemente do primeiro teórico, Paulo Freire entende a educação como um ato gnosiológico. Em outras palavras, Freire parte da ideia de reciprocidade, ganho mútuo, interação. Para ele o homem é um ser em construção, não importando a posição que ocupe: por estarem no e serem do mundo (e pelas suas incompletudes), os homens carecem de relações.
No caso do ensino em sala de aula, outra vez, professor e alunos – segundo Freire – aprendem, interagem, crescem. E o fazem porque problematizam (mais que se transmitem) conteúdos sobre os quais se co-intecionam. Aqui não há, pois, um sujeito, condutor, produtor e os outros objetos, passivos, só aprendizes; a rigor, todos são sujeitos, sujeitos cognoscentes – que aprendem mutuamente.

Para Freire, o homem é um ser consciente e intencional que, num processo educativo, busca construir uma relação (embora contraditória) dialética com seus interlocutores, relação na qual todos ganham. Já que todos buscam a liberdade. São relações, em suma, que partem do subjetivo para tomarem corpo na objetividade, e porque são dialéticas, tornam-se solidárias. Em Freire, a educação é um processo comunicativo e dialógico e passa pela ideia de um encontro entre interlocutores que constroem conhecimentos, ensinam e aprendem, de modo simultâneo.

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